segunda-feira, 19 de março de 2012

Revolta Adolescente


A música Teenage Riot  é um clássico daquela que já foi chamada de “banda mais alternativa do mainstream”, o Sonic Youth. Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, selecionou-a para a coletânea lançada em 2008, Hits are for squares e sobre essa canção escreveu, o que numa tradução livre, pode ser o seguinte: “Eu sou de Seattle, mas  foda-se o café... fodam-se as vitaminas, os sucos orgânicos e a nicotina. Pela minha experiência nada te põe mais ligado como colocar Teenage Riot no volume máximo. De 0 a 60 e deixe ficar. Coloque pra tocar duas vezes e você terá limpado a casa e varrido tudo pra calçada. Em um carro, você se descobrirá  a 150 km/h e obrigado a encostar antes do primeiro refrão. Tente... mas por favor tenha certeza de que você tem dinheiro para arcar com as multas de velocidade. Eles não permitem Walkmans na cadeia.”  

É bem isso.

À época em que foi lançada, o Sonic Youth ainda não era mainstream e a música rapidamente se tornou um hino da galera roqueira indie, aqueles meninos e meninas que formavam bandas como coelhos fazem filhotes e achavam que com suas guitarras barulhentas iriam derrubar os jabás e os engravatados da indústria fonográfica, ou ao menos - os mais espertos -  nem estavam aí pra eles. Tratava-se de fazer um som que tivesse identidade entre os jovens, criar uma irmandade, com um circuito de locais para tocar ao vivo para a mesma galera e gravar suas músicas por gravadoras independentes (daí o nome indie). Estávamos em 1988. Quatro anos depois uma outra música com a palavra teen no título – de outra banda estadunidense devotada ao SY - abalou as estruturas do mundo do rock. Teenage Riot é a faixa número um do álbum Daydream Nation, que entrou para o Registro de Gravações Nacionais da Biblioteca do Congresso estadunidense em 2005. O Registro está atualizado até 2010 e traz, por enquanto,  gravações significativas  de 1853 a 1995. Daydream Nation foi lançado originalmente pela Enigma Records e representa uma transição da banda para o mainstream. A gravadora era a mesma do Poison, mas também do Agent Orange, T.S.O.L., Devo, GG Allin e Slayer. Anteriormente o SY gravava pela SST Records, do ex-Black Flag, Greg Ginn (não confundir com Greg Griffin, shaper de pranchas de surf, nem com o Greg Graffin do Bad Religion). Mais tarde, e menos de um ano depois do lançamento de Daydream Nation, o Sonic Youth assinava contrato com a major label David Geffen Company, a mesma do Guns  n’ Roses e posteriormente a mesma daquela outra banda da música com teen no título, que aliás teve o seu disco onde está esse som na mesma lista registrada na Biblioteca do Congresso; mas isso é outra história.

Teenage Riot parte do sonho de ter Jay Mascis, do Dinosaur Jr., como Presidente dos Estados Unidos (na esteira de Jello Biafra, do Dead Kennedys, ter sido candidato à Prefeitura de São Francisco, na Califórnia, possivelmente).  A letra fala da urgência de se fazer algo para impedir que as escolhas de sua vida sejam feitas por outros que não você mesmo. Fala da necessidade de se armar (com instrumentos musicais?). O metrônomo é capaz de hipnotizar um adolescente e fazê-lo juntar-se à horda revoltosa. O silêncio incomoda. Quem vai apontar o caminho (Jay Mascis)?  Sozinho não se alcança nada. Nada. No início da música Kim Gordon, a bela baixista, recita frases meio a esmo, entre o dedilhado da guitarra nos acordes calmos de Thurston Moore e Lee Ranaldo e com a bateria de Steve Shelley dando o ritmo. Kim repete várias vezes as expressões Spirit desire e We Will Fall, numa óbvia citação dos Stooges, ao final. Nesse momento a guitarra  de Moore irrompe do quase nada silencioso e a rapidez comanda a levada da segunda guita, da batera e do baixo que entram a seguir, seguindo a mesma estrutura dos acordes do início. Após o 13º refrão vem uma parte instrumental fortíssima, acelerada e pegajosa, que em seguida diminui a velocidade antes de ingressar nos últimos refrões. Haja fôlego!

O videoclipe oficial não tem a parte inicial da Kim Gordon. Entra direito na pauleira. É uma espécie de manifesto, panfleto imagético no qual desfilam os ídolos da juventude sônica: Patti Smith, Butthole Surfers, Kiss, Black Flag, Elvis Presley, Sun Ra (cuja Arkestra tocou recentemente em São Paulo), Stooges, MC5, Harvey Pekar... Música e quadrinhos.

Parte significativa da adolescência de muitos que, como eu, amam o Sonic Youth, se deu ao som de Teenage Riot. Quanto à banda,  - já longe da juventude etária - que esteve no Brasil no fim do ano passado para tocar no SWU num show que fez jus ao primeiro no país durante o extinto Free Jazz, não acabou com o divórcio de Thurston Moore e Kim Gordon. Pelo menos por enquanto. Os integrantes devem ter se condoído de seus fãs, já que muitos cometeriam suicídio não suportando a extinção em tão pouco intervalo de tempo de duas bandas emblemáticas do rock com atitude dos anos 80 – não nos esqueçamos do fim do R.E.M. O website oficial do SY anuncia datas de shows de turnê até pelo menos 07 de abril de 2012, na Cidade do México. É mais pertinho que os EUA. Alguém paga a minha passagem? Back on the road on the riot trail.

sexta-feira, 9 de março de 2012

60º ano da morte de Alexandra Kollontai


É curioso que um dia após o Dia Internacional da Mulher tenha morrido a mulher que primeiramente reivindicou o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. Há exatos 60 anos falecia Alexandra Kollontai, no dia 09 de março de 1952. Mas quem hoje se lembraria de uma pessoa falecida há tanto tempo, "jogada na lata de lixo da história", já que foi uma comunista soviética de primeira hora? Poucos. Eu mesmo só me apercebi da efeméride porque queria postar uma frase sua no Facebook, por ocasião da proximidade com a data de ontem. Daí então, pesquisando sobre a sua vida é que descobri que hoje faz 60 anos de sua morte, então como não li nada sobre ela na data de hoje em lugar nenhum (seria demais imaginar que o Google fizesse uma logomarca personalizada, um doodle), resolvi eu fazer a minha homenagem. A quem interessar possa.

Alexandra Kollontai foi uma das mais importantes ativistas da reivindicação e promoção dos direitos das mulheres de fins do século XIX e do século XX. Ela participou ativamente da revolução russa, apesar de sua origem aristocrática. Seu pai era general do Czar.

Casada, insatisfeita com a vida de dona-de-casa, dedicou-se à literatura, tendo escrito um romance que retrata as infelicidades de uma jovem mulher de sua época.

Cansada da "tirania do amor", deixou o marido e o filho para ingressar na vida política e poder estudar Economia na universidade. Também trabalhou como voluntária, conhecendo de perto a situação de pessoas extremamente pobres.

Ainda no século XIX, ingressou no Partido Social Democrata Operário Russo, de viés marxista.

No início do século XX esteve em Paris no mesmo período em que Rosa Luxemburgo lá esteve.

Em 1905, de volta à Rússia, presenciou in loco o "Domingo Sangrento" em frente ao Palácio de Inverno, no qual operários em passeata pacífica foram massacrados pelas forças do Czar.

No ano de 1906 participou do Congresso da Internacional Socialista como única delegada da Rússia e iniciou um trabalho para reivindicar o 8 de março como dia internacional de lutas das mulheres operárias, em homenagem às mulheres estadunidenses queimadas em um incêndio criminoso numa fábrica de Nova Iorque.

Alexandra foi uma das primeiras mulheres a batalhar pela organização setorial das mulheres no seio do movimento operário, promovendo comícios específicos de mulheres.

Foi presa política na Alemanha e na Suécia antes da revolução de 1917.

Em 1917, foi a primeira mulher eleita para o Soviete de Petrogrado e editou o jornal A Operária, além de organizar o primeiro congresso das mulheres operárias de Petrogrado.

Com a revolução vitoriosa e a tomada do poder pelos bolcheviques, Alexandra foi eleita para a Assembleia Constituinte e logo depois foi nomeada Comissária do Povo do Bem-Estar Social, o equivalente ao cargo de Ministra. Aliás, a única mulher no ministério do primeiro governo revolucionário. Nessa condição e daí por diante, ela responsabilizou-se pela aprovação de um conjunto de leis que determinavam a igualdade salarial entre homens e mulheres, a criação de direitos de assistência, a aprovação de creches, o direito ao voto para as mulheres, a direito ao divórcio e ao aborto. Foi também Comissária do Povo para a Segurança (ou Assistência) Social, tendo promovido também medidas para a proteção da infância e da maternidade.

Assim como Che Guevara, não tinha apego a cargos políticos, e, ao divergir de Trostsky na condução da Iª Guerra Mundial (o comandante do Exercito Vermelho defendia a assinatura de um tratado de paz bilateral com a Alemanha), renunciou ao cargo de Ministra. Contudo, não abandonou a militância política e organizou o Primeiro Congresso das Mulheres Trabalhadoras de Toda a Rússia, no qual foi criado o Departamento de Mulheres do Partido Comunista. Não foi a primeira a dirigir o Departamento, mas foi a Segunda.

Em 1922, Alexandra Kollontai aderiu à Oposição Operária, defendendo uma desburocratização do partido e maior liberdade de discussão política para todos. Como prêmio, foi destituída do cargo no Departamento de Mulheres, mas logo em seguida foi designada para a carreira diplomática, tendo sido pioneira, mais uma vez nessa área.

Ela tem uma vasta obra, não apenas novelística, mas também na área da economia política, da psicologia social e da política, com títulos como A situação da classe operária na Finlândia, Base social da questão feminina, Sociedade e maternidade, Quem precisa da guerra?, A classe operária e a nova moral, A nova mulher, O comunismo e a família e A moral sexual.

Sobre o Dia da Mulher, Alexandra tem um texto, com o mesmo nome, escrito em 1913, no qual escreveu: "O Dia da Mulher é um elo na longa e sólida cadeia da mulher no movimento operário. O exército organizado de mulheres trabalhadoras cresce a cada dia (...) Uma força poderosa! Uma força com a qual os poderes do mundo devem contar quando se põe sobre a mesa o tema do custo de vida, da segurança da maternidade, do trabalho infantil ou da legislação para proteger os trabalhadores".
 
 
 
 
 


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Brasil é não é

Brasil é Chico Science & Nação Zumbi.
Só pra lembrar que não é só Michel Teló.
Brasil é Gilberto Gil.
Só pra lembrar que não é só Ivete Sangalo.
Brasil é Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos.
Só pra lembrar que não é só Bruno Barreto e Daniel Filho.
Brasil é Frei Beto.
Só pra lembrar que não é só Gabriel Chalita.
Brasil é Caio Prado Júnior.
Só pra lembrar que não é só Henrique Meirelles.
Brasil é Fábio Konder Comparato.
Só pra lembrar que não é só Ives Gandra Martins.
Brasil é você.
Só pra lembrar que não sou só eu.
Ufa, Brasil.